Idoso resgatado de situação análoga à escravidão em propriedade rural de RO era pago com notas de Cruzeiro em RO
'Lista suja' identifica 4 empregadores em Rondônia que submeteram pessoas ao trabalho escravo. De acordo com dados do Observatório de Erradicação do Trabalho Escravo e Tráfico de Pessoas (SMARTLAB), todos dos empregadores em Rondônia estão na zona rural.
A “Lista Suja” do Governo Federal, que expõe nomes de empregadores que submeteram trabalhadores a condições análogas à escravidão, teve a sua maior atualização da história no mês de outubro: 204 nomes foram adicionados à lista e quatro deles são de Rondônia, todos na zona rural do estado.
O levantamento é atualizado duas vezes no ano: a primeira do ano foi feita em abril, quando a lista apontava 289 empregadores. Agora, a relação soma 473 pessoas físicas (patrões) e jurídicas (empresas).
Segundo o Ministério Público do Trabalho da 14° Região (MPT- RO), somente em 2023, 40 denúncias foram recebidas em Rondônia através dos diversos canais de atendimento. No mesmo ano, foram realizadas duas forças-tarefas com órgãos parceiros e diversas diligências para investigação e fiscalização.
Idoso resgatado
No total, seis pessoas foram resgatadas em situação de análoga a escravidão em Rondônia este ano. Quanto a ‘Lista Suja’, todos os quatro empregadores incluídos são da zona rural do estado.
Uma das pessoas resgatadas foi um idoso de 80 anos de idade. Visivelmente debilitado e desorientado no momento do resgate, ele era responsável por tarefas que demandavam grande esforço físico, como desmatar o pasto, vigiar a fazenda 24 horas por dia e cuidar de aproximadamente 40 bovinos.
Após o resgate, o idoso foi levado para uma unidade de saúde em Buritis (RO), onde foi internado devido à desidratação e desorientação causadas pelas condições extremamente degradantes em que vivia e trabalhava.
Ele não possuía registro formal em carteira de trabalho e apresentou notas antigas de cruzeiros como supostos pagamentos por seu trabalho desde 1996, período que coincide com a data em que a curatela foi concedida à irmã do dono da fazenda.
O idoso resgatado agora está sob nova curatela e recebendo assistência médica e social e o MPT-RO acompanha o caso. Os processos relacionados às verbas trabalhistas e indenizações por danos morais individuais e coletivos estão em andamento.
Como alguém vai parar na ‘Lista Suja’?
Auditores-fiscais do trabalho realizam ações de fiscalização constantes para combater o trabalho análogo à escravidão. Órgãos como a Defensoria Pública da União, Ministério Público Federal, Polícia Federal, Polícia Rodoviária, entre outros, também participam.
Durante essas ações, se encontrado um trabalhador em condição análoga à escravidão, um auto de infração é lavrado. Cada auto gera um processo administrativo e as irregularidades são apuradas. Os empregadores têm direito à defesa.
Pessoas físicas ou jurídicas só são incluídas na “lista suja” quando o processo administrativo que julgou o auto específico de trabalho análogo à escravidão em relação àquele empregador é concluído, com decisão sem possibilidade de recurso.
A atualização de outubro, por exemplo, é relativa à decisões irrecorríveis de casos de trabalho análogo à escravidão identificados pela Inspeção do Trabalho entre 2018 e 2023.
Quem são os empregadores?
A maioria dos empregadores em Rondônia estão na zona rural. De acordo com dados do Observatório de Erradicação do Trabalho Escravo e Tráfico de Pessoas (SMARTLAB), dos setores econômicos mais frequentemente envolvidos no trabalho escravo, 79% são os de criação de bovinos.
O que acontece depois do resgate?
De acordo com o MPT-RO, cada trabalhador exige um ecaminhamento específico. Então o atendimento depende de como eles são encontrados.