Policial

PC indicia casal de empresários por executarem caminhoneiro em Vilhena para não pagar processo trabalhista

Polícia ainda não sabe quem disparou os tiros que mataram a vítima

O delegado Núbio Lopes de Oliveira, titular da Delegacia de Homicídios de Vilhena, reuniu a imprensa na manhã desta quinta-feira, 27, para falar sobre um crime que aconteceu há exatamente um mês, no pátio de um posto de combustíveis, em Vilhena: a morte do caminhoneiro Emerson Valdir Mattes, de 44 anos (lembre aqui).

Até então, o que polícia sabia sobre o crime é que o autor do homicídio chegou em um gol preto, sem placas, e disparou contra a vítima.

Em seguida, fugiu do local. Porém, os investigadores conseguiram identificar o carro, descobriram que ele estava cadastrado no Estado do Amazonas.
A partir desse ponto foi possível saber com quem o veículo estava em Vilhena, e se tratava de um homem que trabalha com compra, venda e locação de automóveis.

Assim começaram as ligações com os supostos mandantes do homicídio, pois foi possível saber para quem o veículo foi alugado: um homem que é casado com uma mulher contra quem a vítima teria um processo na Justiça do Trabalho (entenda aqui).

Diante disso, foi feita uma busca na empresa do casal, que também era usada como casa. O local era monitorado por câmeras, mas, não havia registros unicamente do dia do crime.

Sendo assim, foi pedida prisão preventiva dos suspeitos, que alegavam ser ameaçados pela vítima após sua demissão da empresa.
A mulher disse que não teria motivos para matar alguém, porque a dívida referente ao processo de Emerson na Justiça do Trabalho se tratava de R$ 18 mil. E ela não mataria alguém por causa da quantia.
Posteriormente, constatou-se que o total da dívida era de R$ 38 mil. Mas, as investigações apontaram outros rumos: tudo começou com uma tentativa de fraude em uma seguradora.

Antes, havia acontecido um acidente entre dois caminhões, um branco e o vermelho. O branco seria dirigido por Emerson, que ao tentar uma ultrapassagem fechou o vermelho. Esse segundo tombou.

O caminhoneiro então registrou uma ocorrência em Cerejeiras e o veículo que ele dirigia tinha seguro, já o que tombou, não.

Diante da situação, a patroa de Emerson acionou a seguradora para tentar cobrir o prejuízo causado por seu funcionário a um terceiro.

Após ser demitido, Emerson procurou novamente da Delegacia de Polícia para registrar que a primeira versão apresentada por ele era uma farsa, porque o caminhão vermelho também pertencia ao casal para quem trabalhava.

Ele afirmou ainda que foi obrigado a registrar a ocorrência para que a seguradora cobrisse os danos do caminhão vermelho e para não perder o emprego. Ele disse também que não estava no local no dia do acidente.

“Quando eu indaguei os dois (os patrões), eles disseram que tudo não passou de uma mentira de quem estava querendo se vingar deles; prejudicar eles. E por que então o Emerson registrou isso? Justamente porque ele não estava mais conseguindo emprego”, comentou o delegado.

Sendo assim, passou-se a investigar se o caminhão vermelho seria ou não dos suspeitos. Eles alegavam que haviam comprado o veículo 40 dias após o acidente, porque não conseguiram um acordo com a seguradora quanto ao prejuízo.

A empresa de seguros também foi procurada, e dois documentos foram apresentados: um que negava o pagamento do seguro, e o outro que excluiu a mulher do contrato.

“O detalhe é que a seguradora, em momento algum, apresentou documento de recursos onde eles estavam resignados com a decisão de não ter pago”, disse o delegado, esclarecendo que o seguro foi negado.

Acompanhando o processo veio uma em que Emerson afirmava que tudo era uma fraude, que ambos os caminhões eram do casal, tanto que ele já havia usado o vermelho para fazer frete para a empresa Amaggi.

Com essa informação, a Amaggi foi oficiada, e tem controle de tudo o que faz. O que Emerson disse foi confirmado, pois os registros da empresa apontaram que o caminhoneiro já havia feito frete para a trading brasileira, sendo funcionário dos investigados, e com o caminhão vermelho.

A Polícia Civil então deu outro passo na investigação e procurou os antigos donos do veículo. Esses confirmaram a venda para o casal, 40 dias antes do acidente.

“Resumindo, o casal mentiu e quis dissimular que o caminhão não era deles, porque realmente não estava nome deles. Por que? A gente teve acesso ao contrato de compra e venda e juntamos à investigação. Eles não pagaram a vista e foram quitando parcelado, e somente depois que  pagaram um bom montante é que os antigos proprietários transferiram o cavalo trator para o nome da empresa do casal. Os dois semi-reboques ainda continuam no nome dos antigos proprietários, porque eles não conseguiram quitar”.

O que aconteceu é que o casal de empresários tentou dar um golpe na seguradora, o que configura crime de estelionato. Mas, quando Emerson denunciou a situação acabou com a pretensão ilícita do casal.

Voltando a locação do carro usado no crime, foi provado que o veículo havia sido entregue ao locador às 21 horas do mesmo dia que foi alugado, e quem devolveu foi a própria mulher investigada.

A perícia ainda comprovou que as placas do carro estavam com sinais de rompimento, pois foram tiradas e colocadas de volta após o crime.

O que não se tem confirmação ainda é quem foi o responsável por atirar contra Emerson, pois seu ex-patrão disse que ficou com o carro o tempo todo, e que na hora do crime estava com um amigo, que ele não soube dizer o nome. Mas, a investigação concluiu que o casal de empresários, ambos de 36 anos, encomendou o assassinato.

Eles serão indiciados por participação em homicídio duplamente qualificado. “Está demonstrada a participação como mandantes”, finalizou o delegado.

Fonte: Folha do Sul

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