Jovem de 19 anos se torna primeira haitiana a ser aprovada na Unir
Verônica Batista Exuntus veio para Rondônia em 2015 devido um terremoto que atingiu o Haiti. Estudante é a primeira pessoa da família a cursar o nível superior.
Nem mesmo a barreira da língua ou o choque cultural da chegada em um novo país impediram Verônica Batista Exuntus, 19 anos, de parar de estudar. A imigrante, que veio para o Brasil em 2015, se tornou a primeira haitiana a ingressar na Universidade Federal de Rondônia (Unir).
Em entrevista, a acadêmica do curso de administração conta que a vinda para o Brasil aconteceu após a mãe imigrar para o país, devido a passagem do terremoto que atingiu o Haiti, e matou cerca de 316 mil pessoas.
Segundo ela, os mais de 4,3 mil quilômetros, que separavam o antigo país da nova casa foram percorridos em busca do sonho de uma nova vida, oportunidades, e o reencontro com a mãe, que já estava no Brasil. E foi antes mesmo do desafio de prestar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que a estudante encontrou nos livros um aliado para o aprendizado do novo idioma.
“Eu não tinha o objetivo de vir [ao Brasil], mas os nossos pais sempre querem procurar uma coisa melhor para nós. Quando eu cheguei, minha mãe me ensinava algumas palavras. Ela falava para a gente assistir bastante televisão e foi comprando uns livros de histórias para a gente ir lendo. Lembro que a primeira coisa que aprendi foi, ‘ainda não’, tudo que me perguntavam e eu não entendia, eu respondia isso. Depois, já sabia a falar meu nome e manter uma conversa. Não levei nem dois meses e já estava sabendo falar o português” conta a estudante.
Sonho universitário
Após concluir os dois últimos anos do ensino médio em uma escola pública no Mato Grosso, Verônica retornou a Porto Velho. E com ela, trouxe o objetivo de ser a primeira pessoa da família a ingressar em uma universidade. O primeiro teste aconteceu em 2016, quando ela fez o Enem, e alcançou a média de 540 pontos na redação. De acordo com Verônica, até a aprovação em 2019, muita coisa foi estudada.
“Ele [hoje marido de Verônica] foi o primeiro homem haitiano a passar na Unir, isso em 2016. Ele que me falou o que era o Enem e essas coisas. Ele ficava falando para eu estudar, daí falei ‘vou fazer’. Quando vi minha primeira nota fiquei feliz, porque eu nem entendia bem a língua e tinha os textos também”
Em meio aos projetos que viabilizaram o ingresso na universidade federal, está o curso preparatórios disponibilizados pela prefeitura, e o “Migração Internacional na Amazônia Brasileira: Linguagem e Inserção de Imigrantes em Porto Velho”, que segundo Verônica foi responsável pelo aperfeiçoamento da escrita. “Eles ensinavam a escrita e como desenvolver uma conversa. Então isso ajudou bastante para mim fazer a redação e entender as coisas.
De acordo com a professora Marília Lima Pimentel, responsável pelo projeto, desde 2011 o programa já atendeu cerca de três mil imigrantes. “A Verônica chegou adolescente no Brasil, veio sozinha, aprendeu o português. Imagina, atravessou Haiti, República Dominicana, Panamá, Equador, Peru e Bolívia, até chegar aqui”.
Aprovação
Após a realização da terceira prova do Enem, a aprovação chegou. Segundo Verônica, o sentimento de apreensão pelo resultado deu lugar a festa, quando viu o nome na lista dos aprovados.
“Eu nem tive coragem de abrir na hora, pedi para o meu esposo. Dai fui lá, e olhei. Quando vi meu nome nem acreditei, comecei a gritar e a pular na cama. Na universidade eu fiquei meio perdida no início, mas estou gostando bastante. Eu falo não só para os imigrantes, ou os haitianos, mas para todo mundo. Tem que se dedicar e acreditar no seu sonho para as coisas acontecerem” finaliza a acadêmica de administração.
Fonte: G1 Rondônia