Esposa de homem preso por fabricar armas artesanais em Vilhena emite nota sobre o caso
Operação da Polícia Civil que prendeu dois foi deflagrada esta semana
Uma mulher de 33 anos, que se identificou como Angélica Costa de Paula entrou em contato com a imprensa na manhã desta quinta-feira, 30, para dar sua versão sobre uma apreensão de armas realizada em Vilhena dois dias atrás.
Ao divulgar a operação, e revelar a quantidade de material apreendido em endereços distintos (na cidade e na zona rural), a Polícia Civil insinuou que o armamento, armazenado em uma bicicletaria, poderia estar abastecendo facções criminosas que atuam em Vilhena (ENTENDA AQUI).
Esta parte do texto é contestada pela mulher, que é casada com um dos “armeiros”, que teria confessado a fabricação artesanal de espingardas ao ser preso. No texto enviado ao site, ela nega qualquer ligação do marido e do outro preso na ação policial com as organizações criminosas que atuam na cidade, onde vêm travando uma sangrenta guerra por espaço.
CONFIRA ABAIXO, na íntegra, o texto enviado por Angélica, no qual ela argumenta que o tipo de armamento produzido pelo marido não é usado por facções:
NOTA DE ESCLARECIMENTO
Na última terça-feira, 28/05, foi deflagrada a segunda fase da Operação Thanatus, por meio da qual foram presos dois fabricantes de armas artesanais, e apreendidas 12 ESPINGARDAS CANO LONGO, além dos insumos utilizados na fabricação das armas. A referida operação foi amplamente divulgada pelos principais veículos de comunicação da região, inclusive por este site
Pois bem, enquanto esposa de um dos acusados (com o qual foram apreendidas 03 ESPINGARDAS, além de parte dos insumos), esclareço que meu esposo nunca teve ligação com facções criminosas, tampouco comercializa armas com esses grupos, conforme hipótese levantada pelas autoridades, inclusive sendo esse um dos argumentos utilizados pelo Poder Judiciário para a manutenção da prisão preventiva dos indiciados.
Meu companheiro é muito conhecido na região, é produtor rural, possuímos uma chácara onde criamos porcos, galinhas, peixes, além de pequenas plantações de frutas e verduras. Além disso, possuímos um pequeno comércio – no endereço citado na operação – em sociedade com o meu cunhado, atividades essas incompatíveis com alguém que sobrevive do submundo do crime.
Meu marido, assim como a maioria daqueles que cresceram no campo, teve acesso às armas de fogo usadas para caça desde muito cedo e assim passou a fabricar suas próprias armas; com o passar do tempo começou a receber encomendas de outros caçadores para a fabricação desse armamento, mesmo tendo ciência de se tratar de uma atividade ilícita.
Meu questionamento não diz respeito à operação em si ou as prisões, as quais foram muito bem conduzidas pelas autoridades envolvidas – aliás vale destacar que não houve nenhum tipo de truculência policial durante as abordagens.
A minha preocupação, bem como de toda a família, é simplesmente pelo ato de tentar associar, de forma precipitada e sem provas, o fato narrado a facções criminosas e, consequentemente, ao número elevado de homicídios ocorridos na cidade.
Preciso, quero ressaltar que com a prisão do meu marido, fiquei sozinha com dois filhos menores; meus sogros são idosos que também moram sozinhos. Com essa tentativa de tentar relacionar essas prisões com os homicídios ocorridos nos últimos meses, toda a nossa família corre riscos de represálias por parte de grupos rivais ou familiares das pessoas assassinadas.
Como se extrai do Boletim de Ocorrência, as investigações tiveram início a partir da apreensão de uma ESPINGARDA realizada pela PRF em uma rodovia e, embora não haja maiores informações sobre a referida prisão, nota-se que a arma não estava em poder de nenhuma facção criminosa.
Ademais, os homicídios recentes praticados na cidade, apesar de os BOs não trazerem detalhamento sobre o tipo de armas usadas, sabe-se que o modus operandi é sempre o mesmo, qual seja, motociclistas que surgem arma em punho, efetuando diversos disparos.
Esse tipo de ação é totalmente incompatível com o as armas de cano longo apreendidas (espingardas), aliás é bem óbvio que grupos especializados em assassinatos cometem crimes com armas de cano curto (revólver, pistola). Assim, é nítido que as armas fabricadas pelos indiciados eram comercializadas com sitiantes, caçadores e não com o crime organizado. Também é preciso mencionar que os aparelhos celulares dos envolvidos não foram apreendidos para perícia, o que evidenciaria que não há qualquer contato com os referidos grupos.
Em um dos trechos da decisão judicial, destaca-se o clamor popular por uma resposta das autoridades envolvidas com a segurança pública em relação ao crescente número de homicídios que vem assombrando a população local; tal preocupação é plenamente compreensível, tanto por parte da população que clama por justiça, bem como pelas autoridades que se veem no dever de oferecer uma reposta à sociedade.
Todavia, é preciso agir com cautela, já que alegações que não se fundamentam em provas concretas podem resultar em consequências injustas, seja aos indiciados ou familiares.
Por fim reitero que não estou questionando as prisões. Respeito e confio na justiça, acredito que no final das investigações ficará evidente que não há qualquer tipo de envolvimento dos indiciados com grupos criminosos.
Sabemos que o IP ainda está em curso, até o momento não foram apreciadas provas, a decisão que manteve as prisões foi baseada no IP ainda não concluído, bem como no BO que resultou nas prisões. O que esperamos é que os indiciados tenham uma pena justa, baseada no Estatuto do Desarmamento”.
Fonte: Folha do Sul