Cientistas começam a estudar árvores pré-históricas que viveram a mais de 100 milhões de anos na zona rural de Vilhena
Paleontólogos buscam áreas com mais fósseis de plantas ou até dinossauros
Árvores fósseis que viveram há 110 milhões de anos em Vilhena, a movimentação dos continentes desde Pangea e possíveis fósseis de vertebrados são estudados na comunidade de Nova Conquista poe um grupo de especialistas em paleontologia, composto dos biólogos Rodrigo Villa e Wagner Travençolo, e pelo geólogo Felipe Simbras. Na última semana, a equipe firmou parceria com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma) durante visita a vários pontos na zona rural do município que poderão revelar detalhes importantes da história natural da região desde a Era Mesozóica, quando todos os continentes atuais estavam reunidos em um supercontinente chamado Pangea.
Acompanhados da secretária municipal de Meio Ambiente, Marcela Almeida, e do assessor Thiago Baldine, os especialistas analisaram trecho de um rio próximo a São Lourenço, a cerca de 65 quilômetros de Vilhena. “No local fizemos o mapeamento do espaço, análise do solo, das camadas geológicas, coleta de amostras e estudos da vegetação nativa, bem como das formações lateríticas, que é o acúmulo de solo ao longo do tempo por meio da ação da água”, explica Marcela.
Em Nova Conquista, os pesquisadores vêm estudando madeiras fósseis de árvores que viveram há mais de 100 milhões de anos. “As amostras são de gimnospermas do grupo das Podocarpaceae e foram identificadas através de estudo paleohistológico, com auxílio de lâminas e microscópio. Este é um achado com valor inestimável para a Ciência, pois a princípio, os grupos de vegetais encontrados também ocorrem na África e até mesmo no Japão, comprovando a existência de um supercontinente há centenas de milhões de anos”, explica Wagner.
Felipe Simbras avaliou a geologia da região e a preservação dos fósseis. A pesquisa permite traçar a história geológica de Vilhena e região. “Aqui imensos derrames de lavas basálticas soterraram campos de dunas de um antigo deserto no Triássico, que vai de 251 a 201 milhões de anos atrás. Posteriormente, sobre as rochas vulcânicas, se formaram extensas planícies fluviais onde as florestas de gimnospermas se desenvolveram no Cretáceo Inferior (de 145 a 100 milhões de anos atrás). Por fim, ainda no mesmo período, um grande deserto novamente se instalou e as florestas desapareceram, provavelmente devido às mudanças paleoclimáticas, evidência que corrobora a teoria da deriva continental”, explica.
A preservação das madeiras fósseis é muito boa, o que permite a identificação e comparação com espécimes de outras regiões do Brasil e do mundo. Foram encontrados troncos petrificados de até 9 metros de comprimento, o que requer enorme esforço físico e logístico durante a coleta.
Ao mesmo tempo, em Vilhena, os especialistas foram conduzidos pela equipe da Semma na análise de possíveis fósseis de saurópodes, os famosos dinossauros “pescoçudos”. “Ainda não há registro de dinossauros em Rondônia, então conforme as pesquisas avançarem e formos capazes de identificar algum espécime, será um achado único para Vilhena e para todo o Estado”, revela Thiago.
MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL
Ficou acertado também que os materiais coletados durante a pesquisa do trio de especialistas serão os primeiros itens de um projeto de resgate da evolução geológica, vegetal e animal de Vilhena e região: o Museu de História Natural de Vilhena. Em elaboração, o projeto pode levar vários anos para reunir material suficiente para realizar suas primeiras exposições.
“Nesta primeira etapa, de coleta e catalogação dos materiais, não haverá custos para o poder público. Depois do levantamento pronto, iremos armazenar em espaço adequado os fósseis, amostras de rochas e qualquer item que contribua para reconstruirmos a trajetória da fauna, da flora, do território e até mesmo dos humanos em Vilhena e região ao longo dos milênios e eras”, finaliza Marcela.
FONTE: FOLHA DOSUL