Policial

Irônia do Destino: Autor do Estatudo do Desarmamento é assassinado pelo ex-assessor com arma sem registro

O assassino é um ex-assessor de Camata. Ele confessou o crime e foi preso. A motivação foi uma ação judicial movida por Camata que gerou o bloqueio de R$ 60 mil na conta bancária do suspeito.

O ex-governador do Espírito Santo Gerson Camata, de 77 anos, foi assassinado na tarde de quarta-feira, 26 de Dezembro, na Praia do Canto, em Vitória. O crime ocorreu em frente a um restaurante. Segundo a polícia, o ex-governador foi morto com um tiro no ombro depois de uma discussão com um ex-assessor, causada por uma ação judicial movida por Camata contra ele. Marcos Venício Andrade, ex-assessor de Camata, confessou o crime e foi preso.

O Samu chegou a ser acionado, mas o ex-governador morreu no local. Segundo a polícia, o autor dos disparos fugiu após cometer o crime, mas foi preso logo depois e presta esclarecimentos no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). A arma usada não tinha registro e foi apreendida.

De acordo com o Secretário Estadual de Segurança Pública, Nylton Rodrigues, o suspeito foi preso e declarou, em depoimento, que a motivação foi uma ação judicial movida contra ele por Camata, que resultou no bloqueio de R$ 60 mil de sua conta bancária.

“Na tarde de hoje, o assessor foi tirar satisfação ao encontrar Gerson Camata na rua, na calçada, próximo a uma banca de revista e a uma padaria. Neste encontro, iniciou uma discussão verbal, onde o assessor sacou a arma e efetuou o disparo contra o ex-governador”, explica Rodrigues.

O velório do ex-governador Gerson Camata foi aberto ao público por volta das 10h desta quinta-feira (27), no Palácio Anchieta, em Vitória. Populares lotaram o salão do Palácio, que é a sede do governo do Espírito Santo.
Despedida

A despedida de Camata começou às 8h, fechada somente para familiares e amigos próximos. Edmar Camata, que é sobrinho do ex-governador, lamentou a morte do tio. “O momento é de consternação, de tristeza. Mas de alegria pela história dele como senador, governador. Político carismático, radialista. Levou a luz para os municípios”, falou.

A aposentada Nayr Caliari, de 65 anos, foi secretária do gabinete de Camata quando ele ainda era governador e ficou abalada com a morte do amigo.

“Eu não tenho palavras. Eu estou tão chateada, triste, dolorosa. Tenho muito lembrança dele, muitos trabalhos, fizemos campanha, andamos juntos”, disse Nayr.

Assim como outras lideranças políticas, o atual governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, esteve no velório. “Torci para que a notícia não fosse verdade. Muita tristeza, um ato de brutalidade, de violência, contra uma pessoa tranquila, calma. Camata foi um mestre para mim, eu vinha do movimento estudantil, foi aí que encontrei Camata. Virou nosso candidato ao governador em um momento que se lutava pela redemocratização”, afirmou Hartung.

O ex-governador José Ignácio Ferreira disse que a morte de Camata foi trágica. “O trágico nessa história é alguém que nunca usou uma arma morrer com um tiro. Camata era um homem de paz, cordial, deu sonhos ao Espírito Santo. Talvez não tenha havido no Espírito Santo um homem com esse talento todo”, falou.

Morte

O assassinato aconteceu em uma rua movimentada do bairro Praia do Canto, em Vitória. Marcos Venício Moreira Andrade, de 66 anos, confessou o crime e foi preso a 100 metros do local. A arma usada não tinha registro e foi apreendida. A defesa de Marcos não quis comentar o caso.

“O assessor foi tirar satisfação ao encontrar Gerson Camata na rua, na calçada, próximo a uma banca de revista e a uma padaria. Neste encontro, iniciou uma discussão verbal, onde o assessor sacou a arma e efetuou o disparo contra o ex-governador”, explicou o secretário estadual de Segurança Pública, Nylton Rodrigues.

Depois de ser baleado, Camata ficou caído na calçada. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) chegou a ser acionado, mas ele não resistiu. Depois da perícia da Polícia Civil, o corpo foi levado ao Departamento Médico Legal (DML) de Vitória e foi liberado no final da noite de quarta-feira (26).

Briga na Justiça

Marcos Andrade trabalhou como assessor de Gerson Camata por quase 20 anos. Em 2009, contudo, a relação entre eles ficou comprometida quando Marcos denunciou um suposto crime de caixa 2 cometido por Camata ao jornal “O Globo”.

Em entrevista, Marcos afirmou que Camata recebia mesadas de empreiteiras, apresentava recibos falsos de contas eleitorais e obrigava funcionários a pagar, com salários do Senado, suas despesas pessoais. Na época, ele apresentou documentos e anotações para comprovar a denúncia.

Gerson Camata negou as acusações à época. Ele afirmava que Marcos sofria de problemas psicológicos e que suas acusações não deveriam ser levadas em consideração.

O ex-governador processou Marcos por danos morais por conta das denúncias. Uma ação foi movida na Justiça do Espírito Santo e na do Distrito Federal.

Foi o juiz do Distrito Federal, Leandro Borges de Figueiredo, que decidiu pela condenação do ex-assessor em 9 de abril de 2012. Marcos foi condenado uma pagar indenização de R$ 50 mil, além de honorários e custas processuais.

O ex-assessor recorreu em instâncias superiores, ao longo dos anos, mas sem sucesso. O secretário de Segurança Pública do Espírito Santo, Nylton Rodrigues, disse que houve um bloqueio de R$ 60 mil na conta de Marcos para que ele pagasse a indenização em janeiro de 2018.

Sobre as investigações da denúncia de caixa 2, as denúncias publicadas em “O Globo” foram submetidas, ainda em 2009, à Procuradoria Geral da República e à Corregedoria do Senado (onde Camata exercia mandato na época). Nos dois casos, ficou entendido que as acusações não tinham lastro e foram arquivadas.

Trajetória de Camata

Camata foi governador do Espírito Santo entre 1982 e 1986, exerceu três mandatos como senador, de 1987 até 2011. Ele ainda foi vereador de Vitória, deputado estadual e deputado federal.

Gerson Camata nasceu em Castelo, no sul do Espírito Santo, em 1941. Começou a vida profissional como jornalista e apresentador no programa Ronda Da Cidade, na Rádio Cidade de Vitória. Era formado em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Vitória.

Camata começou na vida pública como vereador da capital do Espírito Santo em 1967, no mandato seguinte, em 1971, foi eleito Deputado Estadual. Foi Deputado Federal por dois mandatos, de 1975 a 1983, governador do Espírito Santo em 1983 e foi por três vezes senador pelo estado, de 1987 até 2011.

Em 1999, foi autor do projeto de lei que deu origem ao Estatudo do Desarmamento. Camata também foi senador constituinte.

Camata foi o primeiro governador democraticamente eleito depois da Ditadura Militar, no período de reabertura política.

Gerson é casado com Rita Camata, ex-deputada federal. Ele deixa dois filhos.

Acusado
Local do Crime
Velório

Fonte: G1 Brasil

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