Profissão de risco: motoboy conta como é sua vivência no trânsito de Vilhena
Motoboys se arriscam em um trânsito caótico para garantir as entregas a comunidade e o sustento de suas famílias
O trânsito cada vez mais complicado das cidades e a necessidade de entregas rápidas faz com que a existência desses profissionais seja imprescindível. Você pode até não perceber, mas os motoboys estão por todos os lugares e, uma hora ou outra, você vai precisar de um deles.
Uma profissão de risco e que acaba entrando no bolo dos acidentes de trânsito ocorridos em Vilhena/RO e demais cidades do país. Dados do Sistema Único de Saúde (SUS) mostram que os motociclistas são aqueles que mais sofrem internações hospitalares após os sinistros. Eles representam 76% dos milhares de registros do 1º semestre do ano passado, em 2019.
Rafael C. Mattiello, 28 anos, trabalha como motoboy há alguns meses. Nas horas vagas, ele encontrou na motocicleta o seu modo de ganhar a vida. O jovem comprou uma caixa de entregas e começou como entregador durante a noite.
“Com o tempo, eu fui conhecendo as ruas e avenidas. Fui fazendo entregas na cidade toda, conhecendo e vivendo de perto os riscos da profissão. Desses seis meses, trabalhei indo e voltando todos os dias de um lado ao outro em Vilhena”, comenta Mattilello.
Trânsito perigoso
É preciso estar atento a tudo no trânsito. Todo o trajeto é perigoso, o que faz com que o motoboy fique em um estado de atenção contínuo. Para Rafael, a falta de atenção dos motoristas e a falta de uso da seta de direção estão entre as causas da maior parte dos acidentes.
“Eu não sei o que há com o motorista vilhenense, mas ele não sabem dar o pisca. E ainda se acham no direito de retrucar quando a gente reclama. Isso não é algo que afeta o meu dia a dia, não é o que me desestabiliza ou me deixa querer deixar de ser motoboy e fazer outra coisa”, afirma.
Rafael disse que viu vários acidentes desde que começou a andar de moto. Seis deles envolveram colegas de profissão, dois deles com vítimas fatais.
O último sinistro ocorreu em Vilhena há alguns dias e tirou a vida de um trabalhador, guerreiro na profissão, por nome Emerson Paz, 30 anos, ocasião em que uma dentista avançou a via preferencial, causou o acidente e se negou em fazer o teste do bafômetro.
“Vários fatores podem causar um acidente. Mas, geralmente, é por causa de uma bobeira. Se o motorista deu o pisca, ele esquece de olhar antes no retrovisor. Muitas vezes, ele dá o pisca e entra direto. Então, o motoboy ou outro carro está logo atrás e acaba cortando a frente. Tem vezes que eles avançam a preferencial bem na nossa frente”, lembra.
Acostumado com as situações corriqueiras do trânsito de Vilhena, o motoboy sempre procura prever o movimento dos outros veículos que estão à frente e atrás dele. Ele explica que muitos dos condutores inexperientes não têm essa noção e não cuidam do que está a sua volta.
“Muitas vezes, eu cobro outros motoristas e motociclistas que tenham o mesmo cuidado que eu. O trânsito é o nosso local de trabalho. Mas a confiança excessiva pode ser um problema também. O cara não acha que vai acontecer um acidente com ele e acaba desviando a atenção”, frisa.
Dados mostram que em grande parte dos acidentes, a confiança de motoristas e motociclistas acabam em acidentes no Brasil; por isso, todo o cuidado é pouco.
Papel social
Mattiello afirma que encara o seu emprego como qualquer outro e destaca que há um papel social importante neles. O motoboy conta que enxerga o risco de sua profissão como uma aventura diária. Ele exemplifica essa aventura como o trabalho de um policial militar, que sai de casa sabendo que vai enfrentar o perigo, mas não sabe se vai retornar.
“Eu sou realizado com o meu trabalho porque eu faço parte do fluxo que faz a cidade funcionar. Por causa da burocracia, várias coisas precisam estar indo para lá e para cá. Se não é um documento, é uma marmita ou um lanche que a pessoa pediu no almoço, ainda mais nessa pandemia do Coronavírus”, ressalta.
O motoboy cita que se sente ativo dentro da sociedade e reclama da invisibilidade da profissão. Rafael pondera e diz que ser invisível é algo que está atrelado aos prestadores de serviço, que estão o tempo todo em contato com as pessoas, mas não são reconhecidos pelo que fazem.
“Reconhecimento e menos ataques, é isso o que nós, motoboys esperamos. Enfrentamos diariamente um trânsito caótico, onde regras de trânsito não são obedecidas, alguns dirigem embriagados e arriscam a vida de todos. Mas nós, sempre estaremos prontos a levar a entrega com agilidade e dedicação”, afirmou.
Os motoboys enfrentam não só os riscos no trânsito caótico de Vilhena/RO, mas também, são vulneráveis a assaltos, furtos e demais crimes que ocorrem na cidade. Se não bastasse todo o risco, muitas das vezes, os motoboys são obrigados a ouvirem as reclamações de clientes boçais e ignorantes em muitos casos.
Contudo, uma coisa é certa. Os motoboys são as peças fundamentais para que a economia local não esfrie, assim como eles não deixam o alimento esfriar nas caixas de entrega e são importantes para a sociedade não apenas nesta pandemia, mas, em seu todo, em uma “profissão perigo”, que carrega no coração dos motoqueiros, o amor pela profissão.
O Jornal Rota Policial News externa nosso apoio aos profissionais das entregas e ora para que Deus os proteja todos os dias, no trânsito de nossa cidade, estado e de nosso país. Essa matéria é a forma de nossa equipe homenagear a todos os motociclistas e entregadores, bem como, externas nossos sentimentos às famílias daqueles que perderam suas vidas, exercendo a profissão.
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Carlos Mont Serrate/ Cássio Rauta/Claudemir Sabino
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